O pensamento freireano: bases para o ensino da Didática.A organização do trabalho pedagógico nessa direção exige, inicialmente, umareflexão sobre o sentido de educação como prática de liberdade.
“Educação que desvestida da roupagem alienada e alienante, seja uma
força de mudança e de libertação. A opção, por isso, teria de ser também,entre educação” para a “domesticação”, para a alienação, e uma educação
para a liberdade. “Educação” para o homem-objeto ou educação para o
homem-sujeito”. (FREIRE, 1994: 45)
Para Freire, a decisão de adotar uma proposta de educação libertadora implica
reconhecer o homem como um sujeito com vocação histórica. Nesse sentido, contrapôs-se à
“educação bancária”, entendida como o processo que trata o “homem como objeto”,
depósito de saberes considerados verdades absolutas. Alertou para que as condições do
terceiro mundo não permitem que o homem exerça sua vocação, fazendo-se necessário
libertá-lo para que isso acontecesse.
O caminho apontado consiste na instauração de uma
pedagogia assentada no diálogo, na comunicação, tendo em vista uma nova relação humana
preocupada com a população, no sentido de que ela própria crie uma consciência crítica do
mundo em que vive. Desse modo, a educação é entendida como o processo de
conscientização do homem, possibilitando o seu engajamento na luta política e na
transformação da realidade social.
“Por isso mesmo, a conscientização é um compromisso histórico. É também
consciência histórica: é inserção crítica na história, implica que os homens
assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo. Exige que os
homens criem sua existência com um material que a vida lhes oferece.
A conscientização não está baseada sobre a consciência, de um lado, e o
mundo, de outro; por outra parte, não pretende uma separação. Ao
contrário, está baseada na relação consciência-mundo.” (FREIRE,1980:26
e 27).
Outra reflexão importante, tendo em vista a organização do trabalho pedagógico na
área da Didática consiste nos saberes fundamentais à prática educativa transformadora que,
segundo FREIRE, (1996) são especificados nos seguintes temas:
“Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar
das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do
outro. Quem ensina, ensina alguma coisa a alguém”.
(FREIRE, 1996:25)
“Ensinar não é transferir conhecimento. É preciso insistir: este saber
necessário ao professor - que ensinar não é transferir conhecimento – não
apenas precisa de ser apreendido por ele e pelos educandos nas suas razões
de ser – ontológica, política, ética, epistemológica, pedagógica mas também
precisa de ser constantemente testemunhado, vivido”. (ib., 52)
“Ensinar é uma especificidade humana: como os demais saberes, este
demanda do educador um exercício permanente. É a convivência amorosa
com seus alunos e na postura curiosa e aberta que assume e, ao mesmo
tempo, provoca-os a se assumirem enquanto sujeitos sócio – histórico –
culturais do ato de conhecer, é que ele pode falar do respeito à dignidade e
autonomia do educando.” (ib., 11)
Com o objetivo de “desalienar a população” com vistas a sua conscientização,
Freire criou a “pedagogia do diálogo” orientando que a relação educando – educador se
desse de forma horizontal.
De acordo com essa visão, o processo educativo tem como ponto
de partida “as situações vividas” pelo educador na realidade do educando. Nesse processo,
a relação “educador-educando” converte-se na relação “educando-educador e educadoreducando”
da qual brotam os “temas geradores” ou “palavras geradoras” para serem
trabalhadas nos círculos de cultura. Dessa forma, os círculos de cultura ocupavam-se dos
temas geradores ou palavras geradoras que emanavam do diálogo sobre as experiências e
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dificuldades vividas pelo educando, compartilhadas pelo educador. Os “temas geradores”
ou as “palavras geradoras” deviam ser aprofundadas na perspectiva da “problematização”,
desenvolvendo no educando “uma visão crítica” de sua realidade.
Esse processo constitui-se como a base para conscientização que se complementa na
ação social e política, na práxis social.
Espera-se, assim, uma atuação do educadoreducando
em prol da transformação da sociedade, o que implica na libertação do homem
das condições de opressão. Contra o que é a educação bancária, Freire orienta uma didática
organizada nos seguintes passos: vivência, seleção de temas geradores, problematização,
conscientização e ação social e política.
É esta metodologia que se pretende desenvolver em sala de aula, tendo como objeto
de trabalho o conteúdo da Didática. Evidentemente que esse processo foi recriado
considerando a especificidade da referida disciplina e as condições concretas do trabalho
docente e discente.
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